e o gato
no alpendre
mia...
e no alpendre
o gato
aguarda...
(algo que nunca virá)
______________
Arthur Rimbaud
Jim Morrison
eterno retorno
Nietzsche
______________
conjunto vazio
[ ]
conjunto vazio
[ ]
conjunto vazio
[ ]
conjunto vazio
[ ]
______________
ao redor
abismos...
______________
não, não são somente os que estão doentes que se dão conta, de repente, horrorizados,
que têm diante de si,
apenas um fio tão tênue de vida
______________
há um anelo que vem dos interstícios
há um fracasso que evapora nos interstícios
há uma impossibilidade que leva aos interstícios
______________
pelas frestas
vapores
fumaças
emanações
fosforescências
nas frestas
______________
me negou mais este noturno
______________
não de se encontrar
de se descobrir
mas de se perder
deixar para trás a identidade
caminhar para uma diferença
abrir-se para outras possibilidades
______________
cada dia é único
é preciso apreciar os momentos
que passam e passam
horas que escoam
horas que ecoam
dentro da vida
na memória
______________
estamos encharcados de banalidades
entupidos pelo senso comumtudo tão medíocre banal
______________
cada instante vivido
é uma luta contra a morte
cada instante passado
é uma afirmação da vida
______________
arco minguante
da lua azul de prata
daquela fria manhã
em que partiu para não mais voltar
______________
temos que fazer nosso amigo imaginário
tornar-se um amigo real,
senão...
______________
acontecimento: algo que se dá entre
um "ainda presente e já passado"
e um "já presente e ainda futuro"
______________
foi a tarde fria que tornou tudo tão frio?
ou foi este imenso frio que deixou a tarde fria?
______________
ó tempos sombrios!
deslizam as pálpebras
resfria a alma toda
o outono prospera!
resfria a alma toda
o outono prospera!
______________
há momentos em que se faz necessário
entregar-se a uma difícil e dolorida tarefa:
desfazer intrincadas costuras,
delicados pespontos e chuleados
para que se despedacem as ilusões...
entregar-se a uma difícil e dolorida tarefa:
desfazer intrincadas costuras,
delicados pespontos e chuleados
para que se despedacem as ilusões...
______________
deixemos vir uma nova primavera!
2012
______________
a vida está sempre começando...
tem-se que acreditar nisso.
______________
como um gato
ficar recolhido
por horas
olhando o vazio...
______________
há dias que tudo chove...
______________
Um raio de luz atravessou
uma cristalina gota noturna de orvalho
pousada numa folhagem verde
que está implorando à aurora e ao vento
um lapso mais de vida
______________
silêncio
surpreende-se o rumor
do tempo
______________
há alguma saída?
saída para uma tristeza
tão absurdamente grande?
______________
não.
não se pode esperar até o fim.
ou o fim já chegou,
ou é tarde demais.
______________
para poder escrever
não é necessário "ser algo",
nem mesmo "ter vivido algo".
é preciso tornar-se algo na escrita,
viver algo na escrita.
escrever
é sempre devir algo...
______________
pensei poder agarrar o tempo,
mas foi ele que me agarrou.
______________
agora eu sei
que tudo existe um dia
apenas para acabar em seguida
______________
o que acaba
é sempre um mundo.
______________
como edward elger compôs treze
variações de um tema
que nunca é ouvido
quero escrever treze variações
de algo que nunca fiz
______________
mistérios...
vida sem explicações...
somente a assustadora velocidade do tempo
somente a fantástica lentidão do tempo
somente a fantástica lentidão do tempo
e mudança e mudança e mudança
e como tudo parece não sair do lugar....
______________
onde estavam as horas,
quando precisei do tempo?
onde estão os dias,
agora que ainda vivo?
______________
há um tipo de doença
a do corpo, que provoca muita dor,
impossibilita a vida e mata
morre-se disso...
há um outro tipo de doença,
a da alma, que provoca muita dor,
impossibilita a vida e mata,
morre-se disso...
______________
...porque tudo vai bem mal...
onde foi que guardei os mapas?
onde foi que deixei a caixa de fotografias?
quando foi a última vez que olhei pela janela?
em que mês deitei e dormi?
em que ano perdi os anéis?
será que um dia vai ventar?
que flores são estas que crescem pelas frestas?
quem é esta que me olha de viés?
não posso mais escutar o canto dos anjos?
...porque tudo está em suspenso...
ai que medo!!
medo da tristeza não desgrudar mais,
medo da tristeza não desgrudar mais,
de permanecer este bosque devastado.
............................................................................................
ah, era um bosque tranquilo (nem tanto)
cheio de pássaros e flores.
agora, estilhaços e ruínas.
______________
Estava tudo lá, tudo lá...
Estava tudo anunciado, tudo anunciado...
Eu é que não vi, não vi...
Agora vejo.
Tarde demais.
____________________________
Estava tudo lá, tudo lá...
Estava tudo anunciado, tudo anunciado...
Eu é que não vi, não vi...
Agora vejo.
Tarde demais.
...um dia
ao voltar a ler este livro, se voltar,
espero estar me sentindo viva
e não tão infeliz como agora.
______________
aturdimento
2011