Notas de coisa nenhuma


Lá está ela novamente
Paralisada
Imobilizada por essas forças invisíveis
intransponíveis
Lá está ela deitada
Chorando, claro
Com seu personagem favorito
As coisas fogem de seu alcance
Tudo se subtrai a seu toque
Até mesmo os fantasmas
Como que movendo-se para longe
Um fosso a envolve
Há um vácuo entre ela e o mundo
Não pode realizar nada
Tudo se fecha, escurece
Numa névoa
De despovoamento e desterro

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Raízes que se entranham por todos os lado
Raízes que imobilizam outras florações
Terríveis raízes que se agarram por baixo
Minando subterraneamente qualquer novidade
Que possa surgir
Raízes paralizantes angustiantes

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Ela pensou que estava no caminho
E quando deu por si
Estava a uma distância incalculável
Já tinha perdido de vista
Não só o caminho, mas a noção de aonde estava indo...
Sem eira nem beira
E era tudo, estava indo para lugar nenhum
"Going nowhere"

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Jogando a dádiva tolamente
Desperdiço cada dia jogando
Jogando com a vida
Continuo na espera jogando
Jogando tudo fora
Toda possibilidade perdi jogando
Jogando jogando jogando


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Como posso sobreviver sendo o que sou? Onde vou buscar alento para continuar?
Se mesmo não tendo motivo para me desesperar, desespero
Não tendo motivo para chorar, choro
Não tendo problema insolúvel, mesmo assim agonizo
Toda energia desperdiçada, dia após dia, em inexistentes empreitadas
Invisíveis batalhas contra nada, contra mim mesma
Forças opostas me mantém aturdida, sitiada, paralisada...


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Respira como quem não pode mais respira em staccato respira em meio a vácuos e recuos
Esse compasso arrítmico se estende sem conclusão transcendendo numa eternidade infinitesimal
Nada decide por um lado ou outro tudo aguarda um fim que parece nunca chegar
E, no entanto, já está percorrendo as fibras desfazendo aos poucos todos os enlaces...

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É sempre noite aqui...  uma pequena lanterna pendurada enferruja a minguada área por ela fracamente iluminada... o resto é breu nada pode ser distinguido nem um rosto amigo nem um olhar querido nem mesmo um sorriso suspeitado nada... também nada se ouve cala um solo silêncio marcado de tormentoso desassossego que inflama o gélido ar noturno trazendo a lembrança da morte que circunda a noite. É sempre véspera.


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De um profundo lamento subiu um suspiro um gemido
Para se espalhar no ar perdendo-se em meio ao vento
Aos movimentos da vida ao vai-e-vens de tudo
Mas sua passagem produziu certo deslocamento
Abriu como que um túnel um canal
Por onde transtornam indefinidamente esses dramas
Que por distração ou esquecimento vão se amontoando
Amargando as horas os dias os anos

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Como alguém pode se livrar da angústia?
Como alguém pode encontrar uma direção?
“Going nowhere” tem sido o aproach

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permeou palavras
com a dor
Fê-la soar e percutir e gemer
cortou um rasgo
com a dor
imprimindo-a no sangue
Esvaindo-se
acabando-se

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De repente se deu conta de que estava perdido
Não sabia onde estava nem mesmo como havia chegado ali...
Mas sabia que tinha alcançado um ponto sem volta...
Era o fim.

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“Sem vida”
grita repentinamente uma voz na minha cabeça
Quando não se sabe se deve ir ou ficar, ou para onde ir
Quando não se sabe porque está onde está
Quando não se sabe porque faz o que faz
Quando se está perdido em sua própria confusão
Quando procura a si mesma onde deveria estar
E só encontra um espaço vazio
Onde está a força divina Elliott?
Já partiu
“sem vida” a voz ecoa e encontra ressonâncias
Em toda parte reverbera
“sem vida”


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Espera longa espera
Esperando por algo mágico
Algo que possa arrancar o medo
Preencher de vida o oco
Fazer vibrar... um choque
Que exploda e lance fragmentos
Dessa substância seca compacta cinza
Que me tornei
Quero ficar airada leve azulada
Flutuar vagar pelos ares

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Desenhar… cantar... tocar… escrever...
Maneiras enviesadas de te conhecer
Maneiras abstratas de estar com você
Construindo um encontro imaginário
Mas que também é um encontro real
Sonoridades e sentidos e imagens
 que vieram de você e
Agora passam por mim
E me tornam plena
Alegre e triste
paradoxo que você amava
Ah, se você pudesse saber como foi bem sucedido
No seu desejo de, do caos, construir algo
Uma beleza
 e tocar outros
produzindo uma mudança
um tremor
ultrapassando a si mesmo
expandindo um ode pelo cosmo


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Solidão?! Ah, você não El.
Eu sei que estar rodeado de pessoas não significa não estar só...
Mas,

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Tudo estaria resolvido se eu conseguisse dar um passo dentro do real!

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Encantamento em saber que há pares ímpares ao redor...
Sempre há!
Desapontamento por não conseguir alcançá-los...
Onde estão?

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Tantas vezes repetidas a mesma coisa de maneiras tão diversas
A cada vez uma diferença única  emana
E pensar que tudo é apenas variadas combinações dos mesmos elementos
Mosaico caleidoscópico conduzindo a raridade à vida
Da vida fazer acontecer algo incomum

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É mais para não afundar de vez na sensação de que “estou faltando ao meu destino”
Porque, nada ocorre, tudo em estagnação em obstrução
tudo escorregando para dentro (ou para fora) de um invisível orifício
Que continua sorvendo tudo de mim, me escorrendo
Aniquilando
Prelúdio do nada


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Passou por sua mente que poderia tentar...
Ontem também pensou isso, mas não tentou.
Anteontem isso também lhe ocorreu, mas não tentou.
Talvez amanhã ou depois, quem sabe um dia...
É... um dia tentaria...

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Era uma vez uma menina que passou a vida sonhando...
Quando acordou, já era tarde demais.
Na realidade, nunca chegou a acordar
Só percebeu que não dava mais tempo de viver
Ou talvez, apenas não soubesse como fazer isso
Então, continuou sonhando...

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Uma só palavra para o mal que me traslada:
Esterilidade.
Não posso não posso não posso em rotação...

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Tomada pela recorrente horrível sensação de lacuna...
INSUPORTÁVEL sentimento de “e se... mas não, não foi assim... nunca será...”
Que só faz aumentar o rombo, o doloroso vazio
Que sulca minha vida em mim numa fenda nula
Pego-me eternamente caindo nessa ribanceira sem fundo
Deixando um rastro de gemidos e carne rasgada
Mortificada na esteira de privação e aspiração infecunda  
Tudo que eu vivi e perdi
Aquilo que perdi porque não vivi
Despojada do olhar, do toque, do amor
De qualquer coisa...

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Parece mesmo que não sei bem como levar a vida,
Como me é complicado viver
Ao longo dos anos isso só foi se confirmando,
As coisas não funcionam direito, insisto, mas...
Não vai, não dá...
Desisto.

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É pura imaginação, é só uma desesperada invencionice, mas...
É como se você estivesse lá e eu pudesse te abraçar
Sentir seu corpo, sua pele, seus cabelos, seu calor, seu cheiro,
Então te aperto bem forte, dando vazão a todo esse amor represado
Sem destino, encaroçado em meu peito, prestes a explodir
Toda eu sou dor e tristeza e desesperança. Só isso.

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Só caos... Sem disposição de torná-lo expressivo e comunicável a algum outro ser. Fixada em franca loucura.


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Dia após dia, ao tentar fazer algo, toda vez, logo de início,  fico enganchada num hostil escarpado que obstrui o emanar de qualquer ideia ou ação. Retalhada, sou esvaziada como um balão do qual todo ar escapou num único e bravio jato,  empurrada atabalhoadamente em violentos zigue-zagues para acabar amarfanhada sem esperança num canto rasteiro e esquecido. Murcha.
(imagem cômica)


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Numa conversa íntima...
Você acredita mesmo no que está falando?
Nem parece você...
De fato não sou eu
São essas vozes que pairam por aí
Assoprando coisas no ouvido da gente...

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Ardente desejo
Estendendo-se no vazio
Oscilando vacilante
No meio do nada

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Todo mundo tem algo a dizer
Eu não tenho nada.

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Eu sou um fantasma vivendo uma vida imaginária
Que não vai, não pode ir, não tem como ir,
Para lugar nenhum

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As pessoas têm o péssimo hábito de morrer
e nunca mais retornar
Desaparecem para sempre

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Sim, conheço bem...
A prática de destruir pontes
O ofício de construir muros
O labor de bloquear aberturas
O esforço de cavar esconderijos
O vício de apagar as luzes
O desatino de acender a loucura


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Prossigo com a farsa
Todo dia jurava ser a última vez
E no dia seguinte, repetia a loucura
Até que deixei para lá
E passo os dias fingindo

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Sem dúvida, desde o início,
 Elliott ouviu o canto das sereias
Imprudente, mas nada medíocre
Com bastante coragem para se entregar às consequências
Por se abrir ao fascínio do canto das sereias
E uma vez aberto o abismo
Não há como se proteger de sua voragem
Centrifugada no vórtice de loucura
Engolido pelo vórtice mortífero
Não há volta, certa é a ruína
Desaparecimento

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Oh, mas que coisa!
Você não para de me surpreender
Me desvia de tudo que me propus a fazer
E acabo fazendo nada
Enquanto você fez tanto


Um estado nulo
paralisada pela rigidez da morte
Nada passa

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Continuo sentada esperando por algo que nunca vem
Pensamento que me abandonou
Nada vem
Até quando isso vai durar
Provavelmente isso me matará...

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De onde estava não podia ver
Mas sentia que chovia e muito
ficava ali, espreitando o nada....
Por que tinha sempre que se sentir assim tão mal?
Por que sempre essa horrível sensação de derrota
De falência?
Acreditava que isso nunca iria passar...

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Não resisto mais a este apelo que vem e me toma
Me entreguei totalmente a ele, ao fantasma
Me sinto tão, mas tão infeliz
A única coisa, nesses tempos frios
 a única coisa que me deixa alegre,
a única coisa que me aquece
É encontrar com a música dele
É fingir que estou com ele
É conversar com ele
fuck
“Strung out again”

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Paralisada
Sufocada
Na reticência... medo
Como dar este salto?

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oh!
Não posso escrever
Mas ainda respiro
Ainda estou aqui...
Minha ausência ultrapassa a mim mesma
Não sei como moldar algo nessa lacuna
Nada... ralo nada

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Você era como uma caixa de surpresas
Estou sempre descobrindo maravilhas
inesgotável desfiar de pequenas preciosidades
Talvez isso possa esclarecer um pouco
Sua dificuldade em viver seu ímpeto para a morte
Vendo e ouvindo e sentindo tanto de uma só vez...


 

Sugada pelo vácuo do nada
Um hiato instalou-se
Névoa cinzenta espalhando-se
Bloqueada a vista
Imobilizados os membros

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pouco a pouco dissolvendo
dissolvendo em sonhos impossíveis
já resta pouco a dissolver
já quase tudo dissolvido
em sonhos diluídos perdidos



estava correndo, corria, não se sabe há quanto tempo, não se sabe por que lugares, mas corria, sentia-se esvaziado, oco, como se algo tivesse sugado todo seu ser, só restando uma delicada e frágil membrana, prestes a se romper.

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foi me dado o dom de perder a vida!
e não me parece que um dia poderei salvar algo dessa confusão que sou, dessa ruína que, nem mesmo pode ser chamada assim, já que implicaria a prévia existência de algo, anterior à ruína e...
natimorta.
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Aqui no meio desta triste tormenta
Aqui no meio de uma oca madrugada
Aqui no meio de uma violenta insônia
Aqui no meio de um vácuo de vida
Aqui no meio de árida solidão
Aqui  no meio da estreita escuridão
Aqui falando e chorando para ninguém
Aqui falando e recitando a mesma ladainha
Aqui acusando e brigando com fantasmas
Aqui acusando este e aquele
Aqui cheia de revolta contra este que abandonou tudo sendo tão prolífico
Aqui cheia de revolta contra mim mesma por não ter abandonado tudo sendo tão desértica
Aqui de volta a meu detestável elemento: a dor e a desesperança
Aqui de volta ao nada que me compõe
Nada, senhor de meu corpo, comandante de minha alma
Nada me guiando para um inevitável abismo
Nada que prefere ir me devorando aos pedaços
Por que não acaba de me neutralizar de vez?
Uma extensa linhagem de ancestrais
Já fizeram esta mesma pergunta
Alguém pôde dar uma resposta aceitável?
Por que adiar essa morte que no mais é tão certo que virá?
Por que não morrer hoje?
Por que não morrer agora?